domingo, 5 de outubro de 2008

Vila Franca

Há 75 anos que é assim na minha terra, sempre no primeiro fim de semana de Julho realiza-se as festas do Colete Encarnado e na primeira semana de Outubro, a Feira Anual.

Esta é a minha rua,...toda a minha familia, sempre morou aqui ou muito perto daqui. Talvez por isso, esta festa seja tão natural para mim,...como beber água. O facto destas festas causarem um certo arrepio em alguns,...causarem incredulidade,... horrorizarem certos pastores de Deus,...ao verem os touros no meio do povo numa correria frenética em busca dos homens que correm à frente deles,...faz-me pensar em como é fácil o radicalismo tomar conta de certas pessoas. A mim, o que me choca não é o facto de serem contra,...mas a maneira como o são. Nasci em Lisboa,...mas grande parte da minha familia, nasceu, cresceu e morreu no Ribatejo,...eu cresci, vivo e provávelmente morrerei por aqui...No dia, em que acabassem com esta tradição,...é certo que também acabava uma parte de mim. Sei, que muitos ficarão chocados com esta minha postura,...compreendo perfeitamente. Mas,...quando se tem uma identidade,...quando se sabe onde se pertence,...quando os meus avós correram nesta mesma rua,...descalços,...com as calças arregaçadas até aos joelhos,...um com o barrete verde e o outro com bóina preta na cabeça,...quando o meu pai,...correu à frente dos touros de sandálias e boné na cabeça,...quando o meu irmão e os meus primos,...já mais recatados,...mais medrosos,...lol,...continuam a estar no meio do povo a fugir dos toiros,...na mesma rua,...nos mesmos dias,...devem compreender que não é fácil renegar a nossa vivência, a nossa cultura e a nossa maneira de ser Ribatejana. Por isso,...assusta-me o radicalismo e o oportunismo de alguns, na lutam que travam em nome dos animais. Penso que não é por aí,... o caminho é apenas a direito e com direito de ser e haver. Acho que todos temos a nossa sensibilidade, todos gostamos disto ou daquilo,...não há ninguém que goste de tudo. O principio da boa convivência e do saber estar em sociedade é lutar pela dignidade de todos, quer sejam animais ou pessoas,...o que não pode acontecer é que não se respeite e que as lutas sejam hipócritas e alimentem por isso a hipocrisia de uns tantos. O respeito deve ser identico ,desde que o respeito pelos animais,...seja igual ao respeito pelas pessoas e pela diferença de culturas de cada região, de cada povo. Quem me conhece, sabe que em mim não existe sinais desumanos...

Mas, sempre desconfiei de quem gosta muito , muito de animais....Eu, também gosto muito, tal como eles, dos animais,...só com uma diferença,... é que eu, também gosto muito, muito das pessoas.

8 comentários:

Su disse...

gostei de ler.t...de certa forma entendo.t


jocas maradas de tempos

By Me disse...

Amiga eu compreendo-te. Mas ao contrário de ti não desejo nem quero voltar às minhas raízes! porque em pequena vivi em duas casas não sinto saudade de nada a não ser de algumas pessoas. Para mim o passado morreu. Sou uma mulher com identidade nova!Não sou patriota nem tradicionalista!
Estou sempre a pensar que gostaria ainda de viver em outro sítio.
Sinto-me do mundo.
Na minha opinião o mundo evoluiu e há certas práticas que numa determinada altura fazim sentido mas deixam de fazer.É só isso.
O Ribatejo não deixa de ser o que é ,o que representa para ti se deixarem os bichos com cornos em paz!
Eu tenho pavor de animais,embora não tenha razão nenhuma para tal.Digamos que é uma fobia sem sentido.Já foi bem pior!
Os animais são para viverem na natureza ,tal como nós gostamos de nos sentir livres!
Mas atenção,gosto de animais,com a devida distância e gosto de pessoas sem distâncias.

Anónimo disse...

As tradições devem ser copreendidas e dvdamente enquadradas na actividade lúdica.

Uma festa de touros vale pela importância que sociolgicamente tem.

Bjs

Fernando Santos (Chana) disse...

Olá Fernanda, concordo com teu post...
Beijo

Smile disse...

Fernanda
Não sou muito dada a touros… nem correr à frente nem atrás deles… quando era miúda vi um à minha frente e fui a única vez que corri mais que Francis Obikwelu… gosto mais vê-los livres pela Natureza onde eles pertencem... gosto de vê-los nas lezírias e de preferência bem longe de mim :-)
Bjs

Mié disse...

A isso chama-se raízes,

e o Homem sem raízes é um inadaptado, falta-lhe identidade.

Um povo só sobrevive como povo se preservar as suas tradições, a sua identidade.

Um beijo

grande

Fernanda disse...

su, verónica, jpd, fernando santos(chana), smile

Gostei dos vossos comentários, todos eles sensatos, sinceros e oportunos.

A questão é mesmo essa,...de indentidade,... sociologicamente falando.
As raizes e a cultura de um povo, seja ele qual for, é fundamental para a enraizamento e interligação social numa comunidade.
É importante saber onde pertencermos,...só assim podemos compreender as diferenças e sentirmo-nos bem, em qualquer lugar do mundo.

Nota: verónica e smile...:))

Eu, também tal como vocês, tenho medo da maioria dos animais e também nem sei porquê...lol e confesso, que dos toiros, só mesmo de varanda e de vê-los na Leziria em manada, são animais lindissimos, que só lá, aparentam uma infinita serenidade e um porte de autenticos reis da planicie Ribatejana.
Aconselho a todos, os que não conhecem,... um passeio pelas charnecas da Leziria.
Vale a pena, acreditem.

Bom fim de semana a todos

O QUATORZE disse...

Boa Noite
A tradição antiga de algo não deve ser quebrada mas respeitada por quem gosta e quem não gosta, os que não gostam, simplesmente não vão á tradição.
Amizade
LUIS 14